Este beijo em tua fronte deponho
Vou partir, e bem pode parte
Francamente aqui vir confessar-te
Que bastante razão tinhas quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
Que me importa se é noite ou se é dia,
Ente real ou visão fugidia,
De maneira qualquer fugiria
O que vejo, sou e suponho
Não é mais do que um sonho num sonho.
Fico em meio ao clamor, que se alteia,
De uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura,
Com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos, mas fogem-me pelos dedos
Para a profunda água escura.
'Ah, meu Deus e não posso salvar
Um ao menos da fúria do mar!'
E os meus olhos se enchem de pranto:
'Oh, meu Deus, e não retê-los,
Se os aperto na mão tanto e tanto!'
O que vejo, sou e suponho,
Seria apenas um sonho num sonho?